quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Criação

O Metropolitano de Lisboa nasceu há 50 anos. Tendo em mente os cartazes que andas espalhados pelas carruagens, esse era o tempo das golas altas, roupas cinzentas e camel, o tempo das fotografias analógicas e pouco brilhantes.
Quando eu nasci o Metro já existia, era parte integrante e natural da cidade de Lisboa, aliás, de qualquer grande cidade. Os carris por baixo do solo são como veias que fazem pulsar o coração da pólis. São eles que distribuem o oxigénio (materializado nos passos apressados de todos aqueles que o atravessam a cada dia, nas mesmas horas, ao minuto). 
Imagine-se o Metro no tempo da minha avó... Imaginem como seria ler as manchetes do dia, como seria descer para apanhar, pela primeira vez, o comboio subterrâneo. Ali, pontual, eficiente...quente, claustrofóbico. Depois da viagem inaugural é certo que a cidade não vai abater sobre si mesma, e o medo dá lugar ao espanto por semelhante obra. "Somos um país desenvolvido", terá ela pensado.
O metro viajou por baixo de Lisboa e quando tinha quatorze anos, uma criança ainda, viu o país mudar. Cravos invadiram as ruas de Lisboa e ele, incólume, mais abaixo.

O meu Metropolitano é diferente, terá ele perdido o encanto?
Não. Eu, que nasci no ano da queda do Muro de Berlim, descobri que o Mundo é tudo aquilo que nós queremos que seja. O meu dia de espanto virá quando vestir o fato branco e viajar até à lua... preço comercial, está claro!
Mas o Metro continua tão fascinante como no primeiro dia. O encanto não está somente na obra de engenharia humana que ele representa mas, principalmente, nas pessoas que transporta.
Todos os dias milhares de pessoas passam o cartão e atravessam os torniquetes. Viajam como seres amorfos. Colocam a máscara da indiferença, criaram bolhas de tal forma resistentes que podem estar a roçar uns nos outros e manter-se impávidos. Eles não querem ver (ou acham que não querem!). Quando aprenderem a olhar vão descobrir que todas as viagens são únicas.
Eu sou a Alice no Metropolitano. Não cai num buraco e a minha rainha de copas não tem uma cabeça maior que o corpo. No entanto, este conto não acaba quando se trinca um bolinho.

Bem Vindos ao Metro!